Faz tempo que não chove.
As cadeiras estão ali, sobrepostas
e não há ninguém a usá-las.
Há uma mesa silenciosa.
Gotas d’água respingam
o sal da solidão dos olhos
da mulher que existia.
É febril a sua cor plena,
dolorosa, serena.
Faz tempo que não chove.
Nenhum ruído nos vidros da porta
que anunciasse uma chegada,
qualquer que fosse,
avisasse desnecessariamente
a chegada do inverno
ao tédio da mulher estática.
Agora era uma pedra.
Um sentimento gélido e intrépido
como a coragem de nada sentir.
Cavar.
Cavar profundamente em busca
do desejo de desejar.
Faz tempo que não chove
e as lembranças advêm:
Cem desejos, cem dores,
um desejo, uma dor.
Nenhum desejo, nenhuma dor.
E a dor de todos os desejos
que a ‘nenhum desejo’ desejam
vai se espreitando na alma,
tortura estéril que elimina a calma
que ali, nunca se permitiria existir.
Faz tempo que não chove.
Fazia tempo.
Os olhos da mulher.
Plenos e rubramente febris
ainda se estendem ao horizonte.
Buscam uma promessa de chuva.
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