TELEGRA MINHA MÃO

Olá. . . Como vai você?

Estive pensando todas as noites. . . sabe? pensei muitas coisas, e entre elas, que há palavras que cheiram a castelo: submundo cheira como suas passagens secretas, que cheiram a guardado; solidão, cheira como seus porões, que cheiram profundamente a abandono; beleza, cheira como suas “paredes abarrotadas de quadros” que cheiram a esquecimento conservador, sublime, horrível, venusto; medo, cheira como suas assombrações que cheiram a lençol (sabe? há medos engomados, passados (presentes e mais além), há medos amassados, usados (gouzados), envoltos (como esse fantasma que você está vendo em mim a nos perseguir), perfumados (como o prazer que embriaga a não sei quantos), coloridos (como a paz que imaginam, nunca viram e tanto esperam), brancos (como essa palidez com que ele se estampa) . . .

Olá. . . Você vai bem?

Que bom. . .

Sabe, estive pensando todos os dias, sabe?, pensei muitas coisas, entre elas, que há palavras que derrubam um/o horizonte, como amor e paixão; entre elas, palavras que fogem como ladras (as que roubam meu coração, seu coração, como: concreto, armas, imposição); há palavras que moram longe como: distância, separação, Atlântida (onde você está??); há palavras que desrespeitam a sociedade como: liberdade, paz, pobreza (ampla, geral e irrestrita); há palavras que dão sono (cafuné, imobilidade, silêncio); há palavras que usam óculos porque são cegas; outras que enxergam bem, outras demais, outras nada vêem (ódio, amor, homem, homem); há palavras que são desorganizadas como pensamento, bagunça e Estado; há palavras que são organizadas como arquivo, biblioteca e certo.

Há palavras que terminam; como farei aqui; após dizer que “apesar de” eu também vou bem, tenho saudades, estou feliz e viverei para sempre; assim: soltando as letras até o meu epitáfio.

(18/04/79)




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